terça-feira, 18 de agosto de 2009

nº 62 Arosa Folk 76. I

Arousa Folk 76, o Woodstock à moda da casa.
Faz quarenta anos que o homem pisou por primeira vez a lua. Sei-no como todo o mundo, porque os meios de comunicação não deixaram de falar do assunto, e sei-no porque eu também tenho quarenta anos. Ser do 69 tem o seu aquele. Alem do erotismo do algoritmo, fica bem ter nascido em fins da década prodigiosa, quando Ono e Lenon andavam acamados in-bed e a malta se manifestava contra a guerra do Vietname. Os glosadores de efemérides andam agora com o do festival de Woodstock, a festada hippie celebrada em Agosto de 1969. Quiçá motivado pelo impulso mediático, visionei novamente a película que Michael Wadleigh dirigira sobre o evento, só um ano após da sua celebração. Ao ver as imagens lembrei um festival no que esteve presente quando criança: o Arousa Folk 76, o nosso pequeno Woodstock.
  • Organização do evento.
Em 1976 estavam a mudar muitas coisas. A morte do ditador Franco vai provocar um câmbio de regime que terá o seu ato final na aprovação da constituição do 1978. Mas durante um tempo os organismos e as instituições do estado seguiram a ser as mesmas, algumas tentando desesperadamente ter acomodo no novo estatus quo. Isto foi o que aconteceu com a OJE que viu minguar os seus privilégios, passando de ser um organismo do Estado a uma associação pública, trás a desaparição da Delegación Nacional de la Juventud (conhecido como Frente de Juventudes).

Arousa Folk 76, foi a última oportunidade que os dirigentes da Delegación Nacional e da OJE tinham para demonstrar a sua capacidade de organização e o seu renovado espírito democrático e conciliador. Pelo festival que se celebraria na Ilha de Arousa passariam jovens artistas de todo o território do Estado Espanhol, cantores, músicos tradicionais e folques que usariam a sua própria língua, incluindo textos sociais, políticos ou de poetas silenciados. Mas, contudo, a Delegación Nacional de la Juventud, por boca do seu delegado provincial deixará as cousas claras:


«Frente a los que pretenden monopolizar las actitudes juveniles, la Delegación Nacional de la Juventud, en esta ocasión, lo único que desea es cumplir la misión de servicio que le encomienda el estado.»


O projecto no que se inscrevia esta actividade, junto com outras como os encontros internacionais GAMA-76 que foram visitados pela Rainha Sofia e os seus filhos, tinham o nome um tanto ostentoso de Operación Arco-Iris. Na equipa que vai organizar o festival decide-se que o director artístico seja Julián Granados. Este músico granadino era um autor de muito sucesso nos 70 com o seu tema “Lupita”, número um na lista de ventas. Posto em contacto com ele confessou-me ter umas boas lembranças daquele festival e numerosos documentos no seu arquivo pessoal.

Se em Woodstock o lema era Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música, em Arousa folk reduzia-se a um significativo Libertad y armonía. Por ter até tinha um hino composto pela santanderina Maruca com estrofes em castelhano e estribilho em inglês, não fora que houvera visitantes estrangeiros. O título também tinha versão cañi e anglófona: Arosa Folk 76 e Arosa Island.

Para seleccionar aos participantes houve prévias por todo o Estado. Foi para isto muito importante a colaboração de Radio Cadena Española e a Cadena de Emisoras Sindicais (CES) dependentes da Secretaría General del Movimiento.
  • Aquele mágico setembro.
Os músicos participantes foram recolhidos por autocarros por rotas que percorriam toda a geografia do Reino:

«Nos dieron una bandera de la ciudad, con el escudo para ponerla allí y en un autobús que arrancaba desde Valencia y venía recogiendo a gente hasta allí hicimos el viaje, que entonces era eterno y penoso.» José Luis Gómez (Grupo Tahona)

A lista de participantes foi mesmo impresionante:




O lugar escolhido para os concertos era em Testos, num pinhal frente ao campo de futebol Salvador Otero.



Eu lembro vagamente de ir com os meus irmãos e ver algum de aqueles concertos sobre um cenário que aos meus olhos de criança e suponho que aos de qualquer espectador do ano 76, resultava muito mais grandioso do que agora se aprecia nas fotografias. O alojamento dos artistas consistiu em barracas de lona instaladas no interior do campo de futebol:

«Como sabrás el lugar de celebración era en un pinar en cuesta junto a la playa y el campo de futbol y abajo de la cuesta donde se sentaba en el suelo el público, estaba el escenario. La mayoría de los grupos actuábamos borrachos a diario pues la juerga fué de órdago ya desde el primer día pasamos de la organización de la OJE y de la SECCION FEMENINA y lógicamente dormíamos tios y tias juntos, el chico del puesto de helados nos traía "de estranjis" ginebra para mezclar con cola, había canutos a tutiplén y recuerdo el coñazo del helicoptero desde primera hora de la mañana pues aterrizaba en el mismo campamento para traer al personal del servicio, evacuar a enfermos, periodistas, la TV ...etc.» José Luis Gómez (Grupo Tahona)

O menú consistiu, segundo nos conta José Luis Gómez, em polvo com batatas no almoço e omeleta e sopa para a ceia. E assim os quatro dias...



No filme de Michael Wadleigh também se vê um helicóptero a aterrar entre os assistentes ao festival. Num desses artefactos desce Janis Joplin.

  • Final.
Esta postagem só é uma posta em conhecimento de algum dos dados recolhidos por mim até o momento, mas a pescuda só acaba de começar. A pouco que procuramos informação daquele festival aparece ante nós como um fato histórico no que à descomposição da rede social franquista se refere.

Uma curiosidade: ao ano seguinte, tentou-se fazer um segundo Arousa folk. Nalgumas comunidades já tinham feita a prévia quando receberam a nova de que o festival fora suspendido. A razão oficial era que havia outras prioridades, mas o certo é que o 1977 foi o ano do fim oficial da Delegación Nacional de la Juventud ou o que é o mesmo, o Frente de Juventudes.



O meu agradecimento a Javier do grupo Orégano por emprestar-me o seu arquivo fotográfico e a José Luis Gómez do grupo Tahona, pelos seus comentários inteligentes.
Fotografias: Arquivo Grupo Oregano.

6 comentários:

sito vazquez disse...

Heite de dicir que eu non asistin a ese festival, pois como xa era un home adulto de "princios", estes non me permitian acudir a eventos promovido por o FJ. parvos prexuizos. Que tera que ver o toucinho(a computadora que estou a usar ten teclao portugues) coa velocidade?.

José Luís do Pico Orjais disse...

Caro Sito:
Isto que contas seria parte dum outro capítulo da história do Arosa Folk, o da recepção da mensagem que a Frente de Juventudes queria dar. Segundo me contam no festival os músicos de Euskadi não se relacionavam com ninguém e só falavam na sua língua, a apresentadora do evento recebeu apitos por falar em castelhano e gente comprometida com a luta antifranquista, como ti, simplementes não foi. Havia um choque de ideologias, quando estas eram claras e cada quem sabia muito bem onde estava e cada quem tinha uma estrategia. Eu acho muito bem que não foras, foi o teu modo de dizer não ao continuísmo, os de Euskadi deveram pensar que havia que estar e fazer pátria frisando a diferencia, etc. O grande problema do nosso pequeno mundo atual e que a militância dou passo ao aburguesamento das ideias e atos de coerência são tomados como pueris. Abraços.

Michell Niero disse...

Olá José,

Não resisti e resolvi publicar essa história deliciosa no Patifúndio também.

Um grande abraço

Anónimo disse...

Hola. Descubro con sorpresa vuestro estupendo blog, donde descubro información e imágenes acerca de Arosa 76. No domino el galego como podéis comprobar. Lo siento, pero he de deciros que lo comprendo perfectamente.
Yo estuve cantando como solista por la provincia de Badajoz, pero me he quedado de piedra al comprobar que en la lista de solistas, no viene mi nombre, Carlos Díaz, sino el de otra persona.
Fue una experiencia inolvidable. Gran ambiente de reivindicaciones principalmente políticas y sociales. Banderas por doquier y buen rollo entre todo el mundo.
Me presentó Eva Gloria, yo tenía dieciseis años que parecían más de veinte. Era otra época. El NO-DO grabó el festival. Julián Granados decía que iba a sacar un LP con las doce mejores canciones del festival.
Al año siguiente volví a ser elegido, pero al final se fastidió el asunto con el cese de la Delegación de la Juventud, se fue todo al traste.
Preciosa tierra, magnífica gente e inolvidable experiencia.
Saludos cuarenta y dos años después.

José Luís do Pico Orjais disse...

Estimado Carlos Díaz: Me alegro que le gustara mi blog. Yo soy de la Illa de Arousa, y mi casa estaba a pocos metros de donde se realizó el festival. Si tienes fotos o cualquier tipo de material y quieres compartirlo, no dudes en hacerlo. Mi correo personal es dporjais@gmail.com También te comento que acabo de publicar un libro sobre la pacense Jacinta Landa Vaz, junto con los profesores Domingos Morais y la también extremeña profesora Pilar Barrios. El mundo es pequeño y para los músicos, todavía más. Un abrazo.

Juan Cachinero Wenzala disse...

Buenas tardes. Mi nombre es Juan y representábamos a la provincia de Jaén. El grupo se llamaba ARCILLA. Efectivamente llevábamos la bandera de nuestra ciudad y fue una gran experiencia en todos los niveles. El cantante que representaba a la provincia, después del festival formó parte del nuevo Arcilla. El grupo era bastante bueno y estuvimos muy cerca de grabar un buen disco. Algo falló y no pudo ser. He visitado varias veces la Isla de Arousa, pero ya con el puente. Recuerdos imborrables y también de agradecimiento a sus gentes, generosos, hospitalarios... extraordinarios. Mi correo es wenzala@gmail.com, por si alguien quiere escribir algunas palabras. Yo tenía entonces 19 años. Un abrazo a todos