sábado, 4 de junho de 2011

nº 113 Graffiteiros do passado III

III

A ALDEIA VELHA DE ABUIM.

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Desenho de Castelao para o conto
A Aldea esquecida do livro Cousas.

Não gosto nada disso de chamar Aldeia Maldita ao grupo de casas abandonadas em Abuim, uma paragem cheia de beleza e onde há alguma que outra marca da que gostaria de falar um bocadinho. Não gosto de que a uma lenda de grande valor desde o ponto de vista etnográfico, se lhe dê categoria de histórica sem um trabalho prévio de especialistas, duma equipa interdisciplinar que resolva todos os mistérios deste povoado desabitado.
No meio da aldeia, um tem a sensação de que o único que aconteceu é que os vizinhos abandonaram um lugar afundido no terreno, sombrio, para procurar espaços mais elevados, em todo caso a poucos metros de onde viviam com anterioridade. Isto parece que desbotaria a hipótese da peste ou qualquer outra epidémia-maldição, pois essa pouca distância entre a aldeia velha e a nova não os ia proteger muito. Com tudo considero que qualquer hipótese ao respeito é uma arroutada um tanto desnecessária, em quanto que não se fazam estudos sérios bem alicerçados na ciência.
Eu vou documentar algumas coisas interessantes que tenho observado nas minhas visitas ao lugar, sempre com a esperança de que a alguem lhe resultem de utilidade.

No caminho pelo que nos adentramos à aldeia há uma casa restaurada com uma grande portada, cujos pernos estão fixados em dous grandes piares. Um deles tem uma cruz com uma cifra embaixo, quiçá uma data.

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O meu calco

De emprender um estudo sério sobre o lugar, haveria que ter em conta esta pedra, perguntar aos donos a sua origem, se sempre estivo lá ou se foi trazida doutro lugar, etc.

Os Caminhos.

Alguma das imagens mais impactantes da Aldeia Velha de Abuim estão nos seus caminhos, corredoiras com altos muros a cada lado e com os restos das pedras que noutrora forraram o chão.

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Nalgumas destas pedras inclusive podemos apreciar o sulco deixado pelas rodas dos muitos carros de bois ou vacas que transitaram por cima.

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A gente que normalmente visita a Aldeia Velha fica só no primeiro grupo de casas, três exatamente, e na corredoira que baixa em direção ao mar. Porém, se te adentras um bocado nos montes dos arredores, ao norte deste caminho principal irás descobrindo novas sendas ocultas no mato, mas que paga a pena visitar.

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Fica para outro momento falar destes caminhos, quiçá traçar um mapa e fazer também um pequeno comentário da feitura dos muros, bem curiosos.

As marcas.

Também na Aldeia Velha de Abuim há marcas que devemos conhecer e que merecem um lugar nestas postagens. O grupo de casas do que ainda ficam algumas ruínas estão agrupadas ao começo do caminho. Numa delas, no pé direito da porta, percebe-se uma imagem antropomórfica triple, quase como um fractal, que me lembra um cristal de neve. Em qualquer caso, não logrei encontrar um exemplo semelhante a este em todos os repertórios de imagens por mim consultados.

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O meu calco.

Embora, a rocha mais monumental está descendo pelo caminho, a poucos metros da casa. Numa pedra cheia de musgo há gravadas, quando menos, duas cruzes associadas a círculos.

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Fotograma da reportagem A morte negra
emitido no programa Cuarto Milenio da
cadeia televisiva Quatro. Na imagem o
periodista Pemón Bouzas.

Tem de haver alguma técnica de restauração para poder tirar da rocha o musgo sem danar os desenhos que ficam ocultos baixo o manto verde. Nas Cruzes de Pedra de Castelao aparece uma cruz como esta com a anotação de que existe em diferentes lugares. Sabemos que o escritor rianjeiro visitou a Aldeia Velha de Abuim pelo relato titulado A aldeia esquecida do seu livro Cousas.

O FORNO DO MARTELO.


Faz uns dias passeava com a minha nena pelo centro de Rianjo, como tantas outras vezes, quando ao chegar à praça de Dieste reparei no perpianho duma casa. As sombras que provocava um sol já em retirada, fizeram que umas letras muito erodidas tiveram por uns instantes uma visibilidade algo maior. Acheguei-me a pedra e repassei com o meu dedo índice o sulco, onde pude ler claramente uma letra V, um M, um S...

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Surpreende-me muito que não tenha lido nada sobre esta inscrição, quiçá romana? nos muitos livros sobre a história local como há publicados. Suponho que algo haverá por ai, assim que se algum leitor sabe qualquer coisa prego mo comunique.
O engraçado do assunto é que em quanto andava a tirar umas fotos com o telemóvel uma mulher maior que vinha da missa perguntou se era periodista. Suponho que lhe pareceu raro que andara a palpar a pedra duma casa que não semelhava ter nada de anormal. Diz-lhe que não, que eu era um professor do colégio de Taragonha e que andava a dar um passeio com a minha pequena. Também lhe contei que naquela pedra que eu estava a tocar havia letras que deviam ser muito antigas. A senhora disse-me que vivera toda a vida aqui a beira e que nunca reparara. Onde si vira muitas coisas escritas era na igreja, que foram os mouros e contou alguma lenda da qual quando tenha mais dados prometo postar.
Também me contou que aquela casa onde estava a pedra inscrita, fora dos Martelo, os donos do paço da praça de Dieste, atual biblioteca. Os proprietários arrendaram-lha a uma mulher que cozia par fora pão e empadas. Depois, a casa fora vendida ao seu atual proprietário, um homem que segundo ela me diz quis obrar mas não lhe deixaram.
O bom é que além do perpianho com as letras, há alguma coisinha mais. Por suposto não podia faltar uma cruz, um símbolo ao que a minha idosa informante não deu nenhuma importância. Segundo ela pôde ser feito por qualquer um, é dizer, não por um mouro. Também há uma marca muito curiosa, uma cifra, 1647. De ser um ano, a sua localização mais lógica seria um dintel, mas encontra-se na cara interior duma janela, pelo que suponho que se trata duma pedra reutilizada doutra construção.

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IHS

Como é sabido o monograma IHS representa o nome de Cristo. Colocado na torça duma porta adquire uma utilidade múltipla: advir-te que quem mora nessa vivenda e bom Cristiano, tem poderes profilático para os seus moradores, saúda aos passeantes, etc. Também os AVE MARIA servem para todo isto, indo ambas palavras muitas vezes juntas no mesmo letreiro. Isto é o que acontece com as duas seguintes imagens, uma de Leiro e outra do Passo.

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No letreiro do Passo, o A M com toda probabilidade são as iniciais de Ave Maria, mas também poderiam ser as iniciais do dono.
Na ribeira de Rianjo há outra casa com pedras que parecem reutilizadas duma antiga edificação da época renascentista. Quando os vi por primeira vez, pensei que podiam ser restos dum dossel mas agora tenho as coisas muito menos claras. O friso da parede do leste tem a cifra 1593 e o do norte o monograma e a lenda LÍBRANOS DE MAL.




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1 comentário:

Anónimo disse...

Un artigo moi interesante e traballado. Gustei moito del.