quinta-feira, 18 de agosto de 2016

n° 204 A moinheira do Armário Musical.


A palavra castelhana musiquero refere-se a um móvel destinado a guardar partituras ou livros de música. Rafael Dieste tinha um ao lado do seu piano, quiçá com os métodos e partituras que um dia tocara a sua irmã Olegária. Um termo tão formoso e a vez claro e conciso como musiquero não tem, que eu saiba, equivalente em galego. No entanto podemos empregar, segundo convenha, móvel, armário ou prateleira para partituras. Também não conheço um nome específico nem em castelhano nem em galego para o armário destinado a guardar instrumentos musicais. Em qualquer caso existem exemplares criados exclusivamente com este fim, como acontece com um localizado na sala de professores do I.E.S. Fernando Blanco de Cee.

Ontem, 18 de agosto, a professora Isabel Rei Samartin e mais eu visitamos esta vila marinheira com a intenção de ver o conjunto de instrumentos que custódia a dita fundação, os quais constituem um grupo único nas coleções públicas galegas. Dos instrumentos e da sua importância desde um ponto de vista histórico e contextual dará, no seu dia, cumprida notícia a professora Rei Samartin. Pela minha parte, eu hoje quero colocar o foco sobre o contentor desses instrumentos, construido exclusivamente para a sua custódia e conservação.

O armário dos instrumentos do I.E.S. Fernando Blanco de Cee é um móvel de três corpos, cada um deles com portas envidraçadas de duas folhas. Segundo nos contou Dario Areas Domínguez, secretário da Fundación Fernando Blanco e coordenador do Museu, o armário foi feito no curso escolar 1908-1909 no ateliê do Colégio-Instituto, baixo a direção de Felipe Vaamonde Romero, professor titular da entidade.

O corpo central tem na parte mais alta um trabalho de marquetaria formado por três instrumentos musicais que parecem ser uma lira, uma mandolina e um clarinete, adornados com motivos florais. Mas o que me chamou a atenção foi a partitura que servia de base ao conjunto. Gravado na madeira aparece uma composição em 6/8, que permite adivinhar uma singela, mas bonita moinheira.

Uma vez na casa, e graças às magníficas fotografias que tirou Isabel Rei, pude reconstruir o motivo musical esboçado naquele pedaço de madeira de carvalho. Ao meu entender, o que se nos amostra na gravura é a segunda voz duma moinheira perfeitamente crível dentro dum contexto tradicional de música para gaita. O que eu fez foi acrescentar-lhe uma terceira inferior, voz que corresponderia à gaita 1ª, assim como umas notas para concluir a cadência final, inexistente no original. É, como disse, uma composição fácil, que pode ser perfeitamente tocável, por exemplo, pelo alunado ceense mesmo com um nível elementar como instrumentista.

A questão final seria saber se a pequena peça é tradicional, fruto da inspiração do Felipe Vaamonde ou se foi composta pelo professor de música do centro, o organista, diretor de banda e rondalhista D. Jesús García Jiménez.

P.S. O nosso agredecimento a Dario Areas, responsável do museu, pela sua hospitalidade e a informação subministrada. Também a Javier, lamento não saber o apelido, zelador do I.E.S. Fernando Blanco amabilíssimo com nós.

Em preto as notas originais.
Em vermelho as notas engadidas.
Em verde o duo por terceiras inferiores engadido.

Na direita da fotografia o armário na sua ubicación original.
1917 ©Fundació Fernando Blanco

 © Isabel Rei Samartim

 © Isabel Rei Samartim

2 comentários:

isabel rei disse...

Acabo de vê-lo! Vim cá procurar o do Emilio Pita e levo um rebuçado. :)
Beijinhos.

José Luís do Pico Orjais disse...

Que lindo dia passamos!