sábado, 1 de outubro de 2016

nº 205 Os cumiais esvaciados.


A sexta teve o prazer de dar um passeio por Isorna na companhia de Tito, o concelheiro de património de Rianxo. O nosso pequeno percurso deu para muito, partilhamos ideias e repassamos algum dos tesoiros patrimoniais com que conta esta paróquia rianxeira. Em Quintães vimos uma graneira que tem uma caraterística que faz muito tempo me tem intrigado. Eu não sou muito de escrever coisas sobre as que não posso dar dados certos, nem de lançar hipóteses que não tenham um suporte documental, por isso levo guardando estas imagens e as minhas dúvidas tempo e tempo.
Bom, o caso é que em Rianxo há um grupo de graneiras que têm uns adornos cumiais característicos, duma ousadia técnica inusitada.
Quiçá uma das graneiras mais emblemáticas de Rianxo é a conhecido como Horreo de Rodríguez. Foi construído em 1919, causando uma famosa polémica entre Mariano Rodríguez, pai de Castelao, e o então presidente da câmara municipal, Manuel Pérez. Se não me engano esse espigueiro é o que está em Fincheira, justo antes do estreitamento pelo que se sai da vila em direção a Leiro e Isorna.
Como cumiais do pinche do leste aparecem três torres, a principal esvaziada.

Figura 1

A poucos metros, na finca da Martela, uma segunda graneira tem um novo cumial furado, desta volta muito mais estilizadas, com paredes compostas por colunas e vãos.

Figura 2

Na saída de Rianxo em direção a Assados, lugar do Paço,encontramos outra com certo parecido ao anterior.

Figura 3

Por último a graneira de Quintães que parece um caminho intermédio entre a fig. 1 e a 2. 

Figura 4

E até aqui. Estes são os únicos exemplos que pude encontrar no nosso concelho. Existem mais? Tal vez. Há este tipo de cumiais em outros concelhos vizinhos? Haverá que perguntar e continuar investigando. Contudo, a mim se me apresentou uma série de questões puramente técnicas que gostaria de partilhar. 

1º Estes cumiais em forma de torres ameadas e, quiçá, torres de igreja, substituem as cruzes. Onde há estes elementos, não há cruzes. Tem isto alguma explicação? Em Brião há mesmo um cumial com forma de gato. A cruz é um símbolo profilático, combate à maldade em qualquera das suas manifestações. O gato de Brião é fácil relaciona-lo com a função de torna-ratos que tem o palafito galego. Mas esta torres? Que representam? E porque três?

2º  Uns meses atrás, perguntei-lhe a Che Golias, grande mestre canteiro, como se faziam este tipo de esvaziados. Ele comentou-me que o seu autor tinha de ser um canteiro dos melhores e que provavelmente usara algum material como escaiola para proteger as paredes já feitas. Em qualquer caso é um labor delicadíssimo, que não qualquer canteiro podia fazer.

3º Dado que estes quatro exemplos pertencem a Rianxo, estaríamos ante a obra dum único canteiro ou da sua oficina? A graneira de Rodríguez foi feita no 1919 e o de Quintães em 1935–data gravada no pinche– assim que, a falta de saber algo dos outros dois, estamos ante um intervalo de tempo relativamente breve.

4º Para poder albergar as três figuras, a cornija do pinche tem de ter muito voo. Isto todavia consegue que os cumiais apareçam como penduradas no ar.

Por último, só dizer que se alguém conhece algum outro exemplo deste tipo de cumiais agradeceria o partilhasse com nós. O saber é um bem cooperativo.

ADENDA 24/10/2016

Uns dias atrás, indo para Abuim, decidi passar por Brião, duas aldeias da paróquia rianxeira de Leiro. Em Brião encontrei-me com dois exemplares mais de graneiras com cumiais esvaziados.
O primeiro, fig. 5, parece um exemplar intermédio entre a fig. 2 e 3 e a fig. 4, mais próximo estilísticamente a este último.

 
fig. 5

O segundo, fig. 6, é um novo passo nesta história . O cumial converte-se numa autêntico campanário. A graneira está em propriedade privada e a fotografia não é boa, mas nesta ocasião parece que o cumial pode estar feito de cimento. Como se vê os pináculos dos lados não correspondem

fig. 6

Continuaremos.

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